O papel da autoconfiança e da autoestima no aprendizado bilíngue

Ter persistência, aceitar os erros e as dificuldades, desenvolver resiliência e participar mais das aulas são algumas das vantagens em desenvolver essas habilidades

A falta de autoconfiança das crianças e dos jovens do século XXI é uma questão recorrente e alarmante. Uma pesquisa denominada “Conversa Sem Filtro” constatou que, no Brasil, os adolescentes tendem a sofrer com graves problemas de autoestima negativa. Por exemplo, ao serem solicitados que apontassem palavras, sentimentos e percepções que lhes vêm à mente ao pensar no próprio corpo, algumas das mais citadas foram “feio”, “tristeza” e “vergonha”.

O estudo foi realizado em 2022 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) por meio de um questionário online respondido por mais de mil pessoas. “Os resultados são preocupantes, uma vez que a autoestima está diretamente ligada à resiliência e à capacidade de apreciar as próprias qualidades e as dos outros, além de interferir nos relacionamentos interpessoais e no desempenho acadêmico, bem-estar e saúde mental”, explica o artigo.

A importância da autoconfiança no aprendizado de um novo idioma

Helena Hoeschl Gonçalves, assessora pedagógica da Eduall, afirma que a autoconfiança é extremamente importante no processo de aquisição de uma nova língua. “O indivíduo com autoconfiança tem persistência. E, com isso, ele se apresenta com a necessária constância das atividades para esse aprendizado”.

O aluno que persevera perante os desafios linguísticos permite seu avanço no processo. Helena fala sobre a relevância de praticar de maneira constante a escuta e leitura. “Quanto mais leio e escuto, maior meu nível léxico e minha proficiência, como na língua mãe. Isso trará os resultados de fala e escrita como consequência”.

Ela enumera vantagens relacionadas ao desenvolvimento da autoestima, outro elemento fundamental para a aprendizagem:

  • Aceitação dos erros: o aluno autoconfiante aceita de bom grado as críticas e correções recebidas de um professor, tutor ou colega de classe.
  • Participação nas aulas: esse indivíduo não tem medo de fazer perguntas e pedir ajuda e é curioso durante a aquisição da linguagem.
  • Protagonismo no processo: ele acredita que pode atingir a meta que traçou e preocupa-se mais com o próprio aprendizado do que com opiniões alheias.
  • Relacionamento com os colegas: o aluno com autoestima se relaciona bem com os demais no ambiente de sala de aula, sem inseguranças envolvidas.

A autoconfiança também fortalece a segurança na comunicação em diferentes contextos. Segundo Helena, a aceitação dos erros permite que o aluno se expresse sem medo. “Saber que errar faz parte do processo aumenta a segurança”, diz. “O estudante se permite errar”.

Além disso, o discente confia nas habilidades linguísticas que estão em processo de aquisição, adaptando-se às situações que está exposto. “Uma palavra importante aqui é a resiliência”, comenta a assessora. “Ser resiliente diante das dificuldades que aparecerão, tendo interações mais significativas a cada etapa”.

Estratégias para promover a autoconfiança e a autoestima linguística 

Helena cita um artigo de Maura Regina Dourado e Lúcia Wolmer Sperb para embasar o assunto. De acordo com as autoras, a autoestima de um aprendiz de um idioma estrangeiro pode ser caracterizada pela perseverança, superação de dificuldades, autoconfiança, determinação e flexibilidade. Esses aspectos podem ou não ser potencializados de acordo com o incentivo do professor.

Existem algumas estratégias para promover essas características nos alunos. A assessora pedagógica destaca um ambiente blindado, propício para que o aluno se sinta confiante e desenvolva sua autoestima linguística com proteção e segurança.

Isso acontece a partir de uma sala de aula onde é possível errar sem ser ridicularizado pelos colegas. Os docentes precisam estar atentos às atitudes dos alunos e à forma que eles se comunicam uns com os outros para evitar situações que podem impedir a construção de segurança.

Outras técnicas apontadas pela especialista são:

  • Estratégias visuais: local ambientado com figuras, para que o aluno se apoie nessas imagens e se sinta seguro.
  • Estratégias corporais: prestar atenção na própria linguagem corporal ao se comunicar com os estudantes, transmitindo respeito e confiança.
  • Estratégias linguísticas: ao fazer perguntas aos alunos, buscar incluir algumas que demandem respostas mais fáceis e fechadas.
  • Scaffolding: do inglês “andaime”, trata-se de uma técnica de assistência que fornece ajuda ao estudante apenas naquilo que ele não consegue alcançar sozinho naquele momento.


Para finalizar as estratégias, Helena traz uma citação do livro “Aprendizagem visível para professores: como maximizar o impacto da aprendizagem”, do pedagogo John Hattie. Ele diz que faz parte do papel do professor deixar claro o que deseja do estudante, com base em metas alcançáveis. “Nós, professores, somos os mediadores. Uma das estratégias mais eficazes é sempre passar um feedback para o aluno com clareza e honestidade, para que ele saiba o que precisa fazer e qual é o próximo passo para sua evolução”.

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