Quando falamos do termo bilinguismo, comumente ele é associado apenas ao ensino de outros idiomas, mas, na verdade, o termo é mais abrangente. Saiba mais!
Segundo as definições do dicionário, bilinguismo refere-se à capacidade de um indivíduo de se comunicar em duas línguas diferentes. No contexto da comunidade surda, essa comunicação pode ocorrer por meio da oferta de educação bilíngue, onde a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é utilizada como primeira língua, e a modalidade escrita da Língua Portuguesa é adotada como segunda língua.
Compreender o contexto da educação de pessoas surdas e a relevância da educação bilíngue é fundamental. Isso não apenas proporciona uma melhor compreensão sobre o tema, mas também permite a apropriação do bilinguismo como uma forma eficaz de inclusão.
Bilinguismo para surdos: Contexto da educação de pessoas surdas no país
Durante séculos a educação de surdos foi considerada impossível de ser realizada, e essa perspectiva perdurou durante muito tempo. No Brasil a educação formal tem início em 1857 com Eduard Huet.
Surdo e professor francês, Huet após enviar uma carta a Dom Pedro II instalou, no Rio de Janeiro, o Collégio Nacional para Surdos-Mudos, hoje denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES.
Por ser a única instituição dedicada ao ensino de surdos durante muitos anos não apenas no Brasil, mas também de países vizinhos, o instituto se tornou uma referência importante para educação, inclusão e no apoio à profissionalização de pessoas surdas.
A língua de sinais praticada pelos surdos no Instituto, tinha forte influência francesa, em função da nacionalidade de Huet. Aos poucos, ela foi sendo disseminada por todo Brasil pelos discentes que regressavam aos seus Estados ao término dos cursos realizados no INES.
No entanto, durante a conferência de educadores de surdos que aconteceu em Milão (1880), ficou determinado que a metodologia de ensino para surdos deveria preconizar apenas a oralidade. Desse modo, a comunicação por meio de sinais ou mesmo de forma associada (oralidade e sinais) foi rejeitada.
“Ao decidirem abolir a Língua de Sinais na Educação de Surdos se deu a concepção que os sinais não tinham valores linguísticos na qual não passavam de mímicas, e que essa necessitava ser evitada estabelecendo então, que todas as disciplinas escolares fossem repassadas através da Língua Oral”, conforme sinaliza o artigo de KEZIO, Gérison Fernandes Lopes.
No entanto, estudos passam a defender que apenas a educação que preconizava a oralidade não era suficiente para que a comunidade surda alcançasse condições plenas no seu desenvolvimento.
Em 1970 a partir do movimento de filosofia da comunicação total, retoma-se a premissa de que a junção da linguagem oral com a de sinais, era fator importante para a efetiva participação e compreensão dos alunos frente aos conteúdos ensinados.
“No Brasil, já no final dos anos 1980, os sujeitos surdos lideraram o movimento de oficialização da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Em 1993, um projeto de Lei deu início a uma longa batalha de legalização e regulamentação em âmbito federal, culminando com a criação da Lei n.º 10.436 de 24 de abril de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais”. INES.
Por que a educação bilíngue é importante para pessoas surdas?
A educação bilíngue para pessoas surdas é importante, por ir além dos aspectos linguísticos, promovendo uma formação integral que abrange dimensões culturais e sociais. Mais que o aprendizado de duas línguas, é uma relevante prática de valorização cultural que fortalece a autoestima e promove o senso de pertencimento.
Todos esses aspectos estão preconizados não apenas pela legislação vigente, mas também pelas políticas educacionais do país. Eles são fundamentais para que se avance na efetiva garantia dos direitos das pessoas com surdez.
Entenda a Lei 14.191 de 2021
A Lei 14.191dispõe sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos, ofertando a Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira língua, e em português escrito, como segunda língua em escolas especializadas ou comuns, desde a educação infantil.
Com a sanção, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) passa a incorporar uma série de instrumentos que visam aprimorar a educação inclusiva no Brasil, especialmente no que tange à comunidade surda.
A legislação estabelece ainda diretrizes para a capacitação de educadores, de modo que estejam aptos a ensinar em um ambiente bilíngue. Isso inclui não apenas o domínio de Libras, mas também metodologias específicas para o ensino de estudantes surdos.
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O que o professor precisa garantir na educação bilíngue de surdos:
- Garantir a interação e o respeito à diversidade em sala de aula e nos ambientes da escola;
- Quando necessário ou solicitado, falar pausadamente, olhando para o aluno com deficiência auditiva/surdez para corroborar com a sua compreensão;
- Identificar as dificuldades encontradas na compreensão dos conteúdos das disciplinas, principalmente nas especificidades dos termos técnicos muitas vezes inexistentes em Libras;
- Respeitar as especificidades da cultura surda.
Para complementar: para facilitar a leitura labial, fale de frente com o estudante e faça com que a sua boca fique visível. As expressões faciais são extremamente importantes, pois as pessoas com deficiência auditiva podem não ouvir as mudanças de tom que indicam sentimentos.
Também é importante conversar de forma objetiva e sem exageros. Use a sua velocidade e o seu tom de voz de costume, exceto se lhe solicitarem para falar mais devagar ou mais alto.
Importância do bilinguismo como forma de inclusão
A educação bilíngue para a comunidade surda é uma conquista importante para a valorização da sua cultura e preservação dos direitos de liberdade de expressão e à educação. Mas para que se torne efetiva, ela deve considerar, todo o contexto social e histórico envolvido pela língua de sinais.
Vale destacar que a expressão corporal, a expressão facial e a articulação correta dos sinais são fundamentais para uma boa compreensão e entendimento das mensagens e conceitos a serem transmitidos. O envolvimento de toda a comunidade escolar é essencial para, de fato, promover a inclusão do aluno.
Ao priorizar a recuperação de memórias históricas, a reafirmação de identidades e especificidades e a valorização da língua e cultura, não estamos apenas promovendo uma educação mais inclusiva, mas também contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Essas iniciativas são cruciais para o empoderamento das pessoas surdas e para fomentar uma convivência respeitosa entre todos os indivíduos, garantindo os direitos e acesso pleno à educação, conforme previsto na legislação.
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