Existem diversos benefícios para quem fala mais de uma língua fluentemente: além de ser um cidadão global e ter uma percepção mais abrangente do mundo, é comprovado que pessoas bilíngues possuem uma melhor percepção, memória, raciocínio e imaginação, além de facilidade no processo de tomada de decisão. Estudos também mostram que o bilinguismo está relacionado com redução dos riscos de desenvolvimento de demência e Alzheimer, ou mesmo a um atraso do desenvolvimento dessas doenças em até cinco anos, além de uma recuperação mais rápida em casos de AVC, com um raciocínio mais ágil e mais concentração.
Embora a existência de uma idade certa para começar a prática de um segundo idioma seja um mito, para alcançar o bilinguismo é indicado que a pessoa comece desde criança. Shalomir Saunders, Assessora Pedagógica do Eduall, explica que as “fases sensíveis”, nas quais o aprendizado é mais fácil e natural, e induz a fluência, ocorrem antes das podas neurais, que acontecem diversas vezes na vida do ser humano. Uma poda neural é um processo fisiológico no qual o cérebro “descarta” neurônios que não estão sendo mais utilizados e fortalece os que são usados com frequência. “As podas mais intensas ocorrem na primeira infância, aos 2 ou 3 anos e aos 6 ou 7 anos. Assim podemos considerar esse período como um de maior facilidade para o processo de uma aquisição da língua alvo.”
Durante esse período, Shalomir afirma que o ensino do idioma é mais eficaz quando feito por meio de uma abordagem natural, considerando o filtro afetivo dessa idade durante o processo de aquisição da linguagem, ou seja, trazendo recursos interessantes e motivacionais, entendendo a idade cognitiva do aluno. “No material do Eduall, o professor tem acesso e estuda o comportamento da criança, entendendo como ela aprende e o que funciona de acordo com a idade da criança”. É a partir desse material que são desenvolvidas estratégias de ensino, feito com atividades lúdicas e interativas que levam em consideração essa fase.
Estratégias do bilinguismo infantil
Qualquer criança pode ser bilíngue, porém existem alguns fatores que influenciam o tempo que esse processo leva, como a motivação de cada aluno, o material utilizado, o ambiente no qual é feito, o tempo exposto a ele, entre outros. Por isso, quando lidando com crianças, é importante criar rotinas efetivas com brincadeiras e interação com a língua alvo.
Shalomir menciona o psicólogo Howard Gardner e a teoria das Inteligências Múltiplas como algo a ser colocado em prática, pois impactam diretamente no processo de aquisição do idioma. Esse conceito afirma que existem nove tipos de inteligências e que todo ser humano apresenta habilidades e aptidões únicas, e domina diferentes áreas do conhecimento de um modo ou de outro. O próprio Howard Gardner afirmou que “o maior desafio é conhecer cada criança como ela realmente é, saber o que ela é capaz de fazer e centrar a educação nas capacidades, forças e interesses dessa criança”.
Logo, a melhor estratégia para ensinar uma nova língua para o público infantil é aplicar os conceitos de Gardner na personalização do ensino, levando em consideração o que cada estudante conhece e como é seu método de aprendizado. Atividades lúdicas e práticas são perfeitas para isso, expondo as crianças ao máximo a um ambiente multicultural e proporcionando meios para que elas se desenvolvam como um cidadão global, trazendo conexões da vida real para uma realidade local e, assim, vivendo um processo de aquisição natural.
Mitos e preocupações sobre o bilinguismo infantil
Um dos mitos mais comuns sobre filhos bilíngues e que assusta muitos pais é o da confusão entre línguas. Isso já foi refutado por pesquisas, que sugerem inclusive o contrário: crianças que aprendem outro idioma desde cedo possuem um grau maior de concentração e um raciocínio mais rápido.
Um estudo feito por acadêmicos de psicologia na Universidade de Lund, na Suécia, mostra que há um crescimento do hipocampo e de regiões do córtex cerebral, tanto em alunos bilíngues como naqueles que apresentam mais facilidade para aprender um idioma. Essa alteração ocorre principalmente porque o cérebro monolíngues não precisa processar tantas informações – dois idiomas inteiros. Assim, estudos afirmam que o cérebro bilíngue possui uma capacidade cognitiva mais desenvolvida, e superior à dos cérebros monolíngues. Além disso, crianças bilíngues se saem melhor em tarefas que envolvem multitasking, com várias atividades ao mesmo tempo.
Outra informação falsa é a de que o bilinguismo infantil causa atraso na fala. Isso também já foi desmentido por estudos, garantindo que crianças bilíngues começam a falar na mesma época que crianças monolíngues. Não causa atraso e, em geral, não causa grandes mudanças na velocidade com a qual crianças aprendem a falar. “Eu mesma sou um exemplo desse processo de aquisição, convivendo em um ambiente com mais de duas línguas” conta Shalomir.