Ao mesmo tempo que saber o idioma permite maior acesso ao mundo da cultura e do esporte, atividades e conteúdos divertidos também favorecem o desenvolvimento da língua
Na pedagogia, já é discutido há anos o impacto das atividades lúdicas e divertidas para o processo de aprendizagem. Estudiosos como Lev Vygotsky e Jean Piaget afirmaram que a brincadeira é fundamental para formar a criança tanto nos aspectos acadêmicos quanto nos pessoais. Henri Wallon, que contribuiu para a Psicologia do Desenvolvimento, coloca a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento humano.
A neurociência também reforça essa ideia. Judy Willis, neurologista americana, escreveu um artigo sobre os benefícios de uma educação divertida. Segundo ela, o nível de conforto dos estudantes pode influenciar sua capacidade de armazenar informações. “Quando os alunos estão envolvidos, motivados e com pouco estresse, a informação flui livremente através do filtro afetivo na amígdala [região do cérebro] e eles alcançam níveis mais elevados de cognição”, enuncia.
Para Tayrone Rolim, assessor pedagógico do Eduall, atrelar hobbies e atividades recreativas ao aprendizado é uma ótima forma de aquisição de um segundo idioma. “O simples fato de apelarmos para memórias afetivas e entretenimento traz para o ambiente de sala de aula o desenvolvimento linguístico.”
Como o domínio do inglês pode enriquecer oportunidades de diversão
Não há como questionar que a língua inglesa ainda exerce grande influência no mundo ocidental. Das cinco músicas mais ouvidas globalmente no Spotify em 2023, as três primeiras são de artistas de países anglófonos, com Miley Cyrus (EUA), SZA (EUA) e Harry Styles (Reino Unido), e a quarta também é inteiramente cantada em inglês (“Seven”, do sul-coreano Jungkook).
Tayrone comenta que a indústria que mais produz experiências novas e intrigantes é a do entretenimento, que está em sua grande maioria na língua inglesa. “Faça uma lista das 10 músicas de que você mais gosta, pelo menos uma delas é de algum artista que canta em inglês”, aposta. “Logo, ter o domínio do inglês vai ajudar a entender o que a letra está expressando.”
O assessor indica que essas perguntas podem ser feitas em sala de aula para provocar a reflexão nos estudantes. “Quais os 10 melhores filmes que você já assistiu? Algum deles é de Hollywood? Se sim, ter o domínio do inglês irá te proporcionar saber de todos os detalhes e nuances das conversas sobre ele”, continua o assessor. “Os maiores criadores de conteúdo no YouTube e no TikTok estão em inglês. Por que será?”, provoca.
Exemplos para unir diversão e aprendizado em um ambiente bilíngue
Para juntar entretenimento e aprendizado, algumas atividades podem ser indicadas aos estudantes, como:
- assistir partidas e campeonatos esportivos: futebol americano, hóquei, patinação no gelo e jogos da NBA, a principal liga de basquetebol profissional do mundo, na internet ou na TV por assinatura;
- ver filmes: cerimônia do Oscar e filmes em plataformas de streaming, como a Netflix.
- acessar redes sociais: falar com pessoas de países de língua inglesa ou que se comunicam em inglês;
- acompanhar receitas em inglês e tradicionais de culturas anglófonas;
- outros tipos de entretenimento: músicas, livros e canais do YouTube em inglês.
Games também são uma boa maneira de praticar o inglês brincando. “Com Super Mario Bros, tomamos conhecimento de muitos termos e frases simples que são úteis para quem está aprendendo inglês”, aponta Tayrone. “Isso inclui palavras comuns como jump (pule) e run (corra).”
Os dois últimos verbos citados estão no modo imperativo, assim como “just keep swimming” (continue a nadar), fala da personagem Dory no filme “Procurando Nemo”. “O imperativo presente é usado para dar comandos, instruções ou conselhos diretos, como também na famosa frase “Just do it” (apenas faça) da Nike”, diz o assessor. Unir diferentes elementos lúdicos para explicar um conteúdo ou tempo verbal é interessante para engajar os alunos no aprendizado.
O grande alcance da língua inglesa
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) considera o inglês como uma língua franca. Isso significa que o documento legitima esse idioma como aquele mais utilizado para comunicação entre pessoas de diferentes países. Ou seja, a língua se desloca do contexto apenas dos falantes nativos e passa a pertencer também ao resto do mundo.
Por isso, o consumo de entretenimento em inglês não se limita à valorização apenas dos artistas nativos de países anglófonos, mas sim de qualquer pessoa que deseja internacionalizar suas produções. No exemplo do Spotify, a quarta música mais ouvida de 2023, apesar de ser cantada totalmente em inglês, foi feita por um artista sul-coreano. Alguns livros, séries e filmes estrangeiros também apresentam uma tradução na língua inglesa.
Tayrone acrescenta que, além do consumo de mídia e entretenimento, o intercâmbio cultural requer o conhecimento de um segundo idioma. “Um dos maiores prazeres da vida é viajar. E conhecer o mundo requer falar a língua universal”, salienta. “O mundo do bilinguismo e da diversão sempre estarão diretamente relacionados.”